quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pablo Neruda



              Jardim de inverno




Chega o inverno. Esplêndido ditado

me dão as folhas lentas

vestidas de silêncio e amarelo.



Sou um livro de neve,

uma mão espaçosa, uma pradaria,

um círculo que espera,

pertenço à terra e a seu inverno.



Cresceu o rumor do mundo na folhagem

ardeu depois o trigo constelado

por flores vermelhas como queimaduras,

logo chegou o outono estabelecendo

a escritura do vinho:

tudo passou, foi um céu passageiro

a taça do estio,

e se apagou a nuvem viajante.



Eu esperei na varanda, tão enlutado

como antigamente com as heras de minha infancia,

que a terra estendera

suas asas em meu amor desabitado.




Eu sabia que a rosa cairia

e o osso do pêssego transitório

voltaria a dormir e germinar:

e me embriaguei com a taça de ar

até que todo o mar se fez noturno

e o arrebol se converteu em cinza.



A terra vive agora

tranquilizando seu interrogatório,

estendida ao pé de seu silêncio.




Volto a ser agora

o taciturno que veio de longe

envolto na chuva fria e em sinos:

devo à morte pura da terra

a vontade de minhas germinações.




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