sábado, 31 de julho de 2010

Charles Bukowski



                          Para a prostitua que levou meus poemas



alguns dizem que devemos eliminar os remorsos pessoais

do poema,

permanecer abstratos, há certa razão nisto,

mas, jezus;

doze poemas perdidos e não tenho as cópias e você

também

levou meus quadros, os melhores; é intolerável:

você está tentando me foder como os demais?

por que não levou meu dinheiro? elas geralmente

o tiram das calças do bêbado doente e sonolento na esquina.

da próxima vez leve meu braço esquerdo ou uma nota de cinquenta,

mas meus poemas não.

não sou Shakespeare

mas simplesmente

não haverá outro, abstrato ou seja lá o que for;

e sempre haverá dinheiro e putas e bêbados

até que caia a última bomba.

mas como disse Deus

cruzando as pernas:

Vejo que criei muitos poetas

mas não muita

poesia

.

domingo, 25 de julho de 2010

Octavio Peñaloza





              Minha Casa

Morada de insetos, minha casa

plágio do mundo

voz que nela se perde



no meio do mar

sou um cadáver

em minha cama

que abandono

                      mulher sem nome



morto errante

pelas noites

                   volto a ela


a poeira de meu dia aterriza

o torpor da tarde azeda

canto na sala

e aplaudem os insetos


.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Carlos Barbarito


Não importa em que língua alguém escreve.




Não importa em que língua alguém escreve.

Toda língua é estrangeira, incompreensível.

Toda palavra, assim que pronunciada,

Foge para longe, lá onde nada e ninguém pode alcançá-la.

Não importa o quanto se sabe.

Ninguém pode ler.

Ninguém sabe o que é um relâmpago

e tampouco quando ele é refletido

no metal polido de uma faca.

Agora, a noite parece um mar.

Sobre aquele mar em que nós remamos,

dispersos, em silêncio.



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sábado, 10 de julho de 2010

G. K. Chersterton




              Balada de um suicída


A forca em meu jardim, as pessoas dizem,

É nova, pura e possui a altura adequada.

Ato a corda de um modo conhecido

Como quem dá o nó da gravata numa bola;

Porém, apenas quando todos os vizinhos – na parede-

Esboçam um largo suspiro e gritam “Hurra”!

Um estranho capricho me toma... Depois de tudo

E penso que não me enforcarei hoje

Amanhã será o dia de meu pagamento –



A espada de meu tio pende no vestíbulo

Vejo uma pequena nuvem toda rosa e cinza

Talvez a mãe do reitor não chame – imagino

Que teve notícias do Sr. Gall

Estes cogumelos poderiam ser cozidos de outra maneira-



Nunca li as obras de Juvenal –

Penso que não me enforcarei hoje

Haverá outro dia para que o mundo se lave;



Os decadentes decaem; os pedantes, insípidos;

H. G. Wells descobriu que as crianças brincam;



E Bernard Shaw que elas têm rachas,

Os racionalistas crescem racionais -

E através dos espessos bosques encontro um córrego perdido

Tão pequeno que o mesmo céu parece pequeno –

Penso que hoje não me enforcarei.


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segunda-feira, 5 de julho de 2010

E. E. Cummings






    O buscador da verdade


obuscador da verdade


não segue nenhum caminho

todos os caminhos levam onde



a verdade está aqui







   O amor é um lugar



O amor é um lugar

& através deste lugar de

amor move-se

(com brilho de paz)

todos os lugares



sim é uma palavra

& nesta palavra de

sim habitam

(habilmente enroladas)

todas as palavras



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