segunda-feira, 31 de maio de 2010

W. H. Auden






                    Funeral Blues

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,

Impeçam o cão de latir dando-lhe um osso suculento,

Silenciem os pianos e abafem o tambor

Tragam o caixão, deixem as carpideiras entrar.



Que os aviões, gemendo sobre nossas cabeças,

Rabisquem no céu a mensagem Ele Está Morto.

Ponham laços de crepe no pescoço branco das pombas,

Deixem os policiais de trânsito usar luvas pretas de algodão.



Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,

Minha semana de trabalho e o meu descanso de domingo,

Meu meio-dia, minha meia-noite, minha conversa, minha canção;

Eu pensei que o amor iria durar para sempre: eu estava errado.



As estrelas são indesejadas agora; coloquem todas fora,

Empacotem a lua e desmontem o sol,

Despejem o oceano e varram a floresta;

Pois nada pode trazer algo de bom agora..

terça-feira, 25 de maio de 2010

Wallace Stevens

O Homem Neve




Deve-se ter uma mente de inverno

Para contemplar a geada e os ramos

Dos pinheiros incrustados com neve;



Por muito tempo esteve frio

Para contemplar os zimbros cerrados com gelo

Os ásperos abetos no brilho distante



Sol de janeiro; e não pensar

Em nenhum mistério no som do vento

No som de umas poucas folhas,



Que são o som da terra

Plena do mesmo vento

Que estava soprando no mesmo descampado




Para o ouvinte, que ouve na neve,

E, nada além dele, aguarda

O nada que não é e o nada que é.

Wallace Stevens

Anedota de Homens por Mil




A alma, ele disse, é composta

Do mundo externo.



Há homens do Oeste, ele disse,

Que são o Oeste.

Há homens da província

Que são a província.

Há homens de um vale

Que são aquele vale.



Há homens cujas palavras

São como os sons naturais

De suas terras

Como o cacarejo dos tucanos

Na terra dos tucanos.



O mandolim é o instrumento

De um lugar.



Nas montanhas do oeste há mandolins?

No luar do norte há mandolins?



O vestido de uma mulher de Lhassa,

Em seu lugar

É um elemento invisível daquele lugar

Feito visível.

Poemas de Wallace Stevens

                                Infanta Marina




Seu terraço era a areia

E as palmeiras e o crepúsculo.



Ela fez das emoções de seu pulso

Os gestos grandiosos

De seu pensamento.



O enrugamento das plumas

Das criaturas da noite

Veio para ser as roldanas das velas

Sobre o mar.



E assim ela vagou

Nas reviravoltas de seu ventilador,



Tornando-se do mar

E da noite

Como se eles circulassem ao redor

E pronunciassem seu som mais terno.