sábado, 26 de junho de 2010

Clementina Suárez


       Combate


Eu sou um poeta,

um exército de poetas.

E hoje quero escrever um poema,

um poema assobios,

um poema fuzis,

para pregá-los nas portas,

nas celas das prisões,

nos muros das escolas.

Hoje quero construir e destruir,

levantar em andaimes a esperança.

Despertar a criança,

arcanjo das espadas,

ser relâmpago, trovão,

com estatura de herói

para cortar, arrasar

as raízes podres de meu povo.




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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pablo Neruda



              Jardim de inverno




Chega o inverno. Esplêndido ditado

me dão as folhas lentas

vestidas de silêncio e amarelo.



Sou um livro de neve,

uma mão espaçosa, uma pradaria,

um círculo que espera,

pertenço à terra e a seu inverno.



Cresceu o rumor do mundo na folhagem

ardeu depois o trigo constelado

por flores vermelhas como queimaduras,

logo chegou o outono estabelecendo

a escritura do vinho:

tudo passou, foi um céu passageiro

a taça do estio,

e se apagou a nuvem viajante.



Eu esperei na varanda, tão enlutado

como antigamente com as heras de minha infancia,

que a terra estendera

suas asas em meu amor desabitado.




Eu sabia que a rosa cairia

e o osso do pêssego transitório

voltaria a dormir e germinar:

e me embriaguei com a taça de ar

até que todo o mar se fez noturno

e o arrebol se converteu em cinza.



A terra vive agora

tranquilizando seu interrogatório,

estendida ao pé de seu silêncio.




Volto a ser agora

o taciturno que veio de longe

envolto na chuva fria e em sinos:

devo à morte pura da terra

a vontade de minhas germinações.




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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Jack Kerouac



Mexico City Blues - 1º Coro


A mágica colina Butte – da ignorância

A mágica Butte

É o mesmo que outra colina

Uma única luz

Velhas estradas ásperas

Uma alta forma

De ferro



Em Denver é a mesma coisa

“O cara com quem seu tio estava

Era o governador do Wyoming”

“É claro que ele me pagou o que devia”

Dez dias

Duas semanas

Guardar e fumar um baseado



“De qualquer jeito, era um velho trapaceiro”



A mesma voz no mesmo navio

O veículo supremo

S.S. Excalibur

Maynard

Linha Principal

Merudvhaga

Imersão de uma garotinha

Jack Kerouac

Mexico City Blues - 2º Coro


O homem do Oeste

Não está preocupado

Ele sabe que seu Karma

Não está enterrado



Mas seu Karma,

Desconhecido para ele,

Pode acabar –



Que é o Nirvana



O selvagem

Que mata

Possui um

Karma mau



Homens bons

Que amam

Possuem o Karma

Dos pombos



As cobras são os pobres habitantes do Inferno

Que vem se esgueirando

Pela grama alta

Para encontrar o lago com sapos

domingo, 6 de junho de 2010

William Carlos Williams




Canção de verão




Lua andarilha

sorrindo um

sorriso levemente irônico

nesta

brilhante, orvalho umedecido

manhã de verão -

um destacado

indiferente sonolento

sorriso, um

sorriso de andarilho -

se eu

comprasse uma camisa

sua cor e

colocasse uma gravata

azul-celeste

onde eles iriam me levar?